Existe uma variedade de instrumentos musicais presentes na série The Legend of Zelda, desde aqueles pertencentes ao herói da trama, Link, àqueles praticados por personagens secundários.
Ante a vasta gama de instrumentos, não há espaço para se aprofundar na análise de cada um deles, em um só texto, de sorte que o mais acertado é apresentar um instrumento por texto, o que se inicia através do presente.
Pois bem, em se tratando de Zelda e instrumentos musicais, por óbvio, o primeiro que vem à mente é a ocarina. Nem se poderia pensar diferente, na medida em que a ocarina é o instrumento mais presente na série e emblemático da série.
Um pouco de história
A ocarina é um instrumento de sopro dos mais antigos criados pelo homem. Segundo a tradição chinesa e centroamericana, a ocarina foi criada, de forma indepente, nessas regiões há mais de 12.000 anos e somente chegou aos demais povos muito tempo depois (os chineses levaram a ocarina para o Japão há cerca de 3.000 anos e os europeus a conheceram apenas no século XIX a partir de artefatos indígenas e asiáticos).
O nome que conhecemos (ocarina) foi dado ao instrumento na Itália do século XIX (na região de Bologna) por Giuseppe Donati, significando o termo, oriundo do dialeto bolonhês, “pequeno ganso”, já que, aos olhos de Donati, o formato do instrumento lembrava a cabeça de um ganso.
Tipos de ocarinas
A ocarina pode ser feita de porcelana, madeira, metal, plástico ou vidro e não se confunde com a flauta (embora pertença à mesma família) devido a seu formato globular (parece geralmente uma gota, mas há versões mais arredondadas ou em formato de cifre, bem como outros formatos).
Devido à ressonância que se provoca com o ar dentro da ocarina, não importa o comprimento do instrumento (ao contrário da flauta pan, por exemplo, que tem o som alterado pelo comprimento do tubo), mas a quantidade de furos que estão abertos ou fechados, tal qual na flauta doce ou transversal.
As ocarinas têm quantidade variada de furos, havendo modelos de 4 a 13 furos, e, conforme as combinações de abertura e fechamento (ou parcialidade na abertura), produzem diferentes sons, entoando notas não limitadas ao número de furos.
A posição dos furos no corpo da ocarina também não é padronizada, sendo que cada construtor a faz conforme melhor conforte seus dedos. Tal fato não afeta o som, na medida em que a posição dos furos não é importante, mas sim o tamanho desses.
Devido ao tamanho do instrumento e, principalmente, à impossibilidade de alterar a nota emitida simplesmente pela forma de soprar (na flauta, por exemplo, um sopro mais forte permite oitavar* a nota), foram criadas ocarinas de corpo duplo, para ampliar a gama de notas disponíveis. As ocarinas de corpo duplo também são utilizadas para polifonia, isto é, harmônicos no próprio instrumento.
Outra forma de aumentar o número de notas foi desenvolvida no final do século XIX, na Europa, através do sistema de chaveamento, permitindo o instrumentista alcançar furos (notas) mais distantes.
O som da ocarina lembra o da flauta doce (e não da flauta transversal, embora em jogos e animes o instrumento seja emulado, em sua maioria, por flautas transversais, nas gravações).
A Ocarina nos séculos XX e XXI – cultura pop
Nos dias atuais, a ocarina não se mostra um instrumento popular entre os músicos mundiais, devido a sua limitação de sons possíveis. Não há grande utilização, nem nos países de sua origem. No Japão, porém, o instrumento é apreciado e, por força disso, há várias referências à ocarina em animes e jogos. Como exemplos, citem-se Dragon Ball Z (o personagem Tapion usa uma ocarina para deter o monstro Hirudegan); Naruto (a personagem Menma toca ocarina nos episódios 213, 214, e 215); Sekai Ninja Sen Jiraiya (a personagem Acarem toca ocarina no episódio 47); Tonari no Totoro (o personagem Totoro tem uma ocarina); e Pokémon (The Movie 2000: The Power of One – a personagem Melody toca o tema do Pokémon lendário Lugia).
Melody tocando o tema de Lugia
The Legend of Zelda: Ocarina a todo tempo
Nos games, embora provavelmente a ocarina apareça em outras franquias (se conhecer alguma, não deixe de comentar), o maior destaque dado ao instrumento foi feito pela Nintendo na série The Legend of Zelda.
Na franquia, a ocarina conta com cinco aparições: em A Link to the Past, Link’s Awakening, Ocarina of Time, Majora’s Mask e The Minish Cap.
Conforme a linha do tempo da lenda de Hyrule (divulgada em Hyrule Historia), o primeiro Link a ter contato com uma ocarina, foi o que se aventurou pela terra dos Minish e encontrou a Ocarina do Vento (Ocarina of Wind).
Posteriormente, uma nova geração de Link, obteve duas ocarinas: Ocarina da Fada (Fairy Ocarina) e a Ocarina do Tempo (Ocarina of Time). Ato contínuo, com a ruptura do tempo-espaço contínuo (ao melhor estilo De Volta para o Futuro), Link criança (de Ocarina of Time) teve novo contato com a Ocarina do Tempo.
Paralelo a isso, um novo Link teve contato com uma ocarina, equivocadamente chamada de flauta, muito tempo depois, na linha do tempos do Herói Derrotado. O erro, em A Link to the Past, deu-se na tradução, uma vez que o nome da ocarina tradicional japonesa é tsuchibue, que, significa “flauta de barro” ou “flauta da terra”, que, em verdade, se trata da ocarina.
Entretanto, como foi a primeira aparição do instrumento na série (observando a ordem de lançamentos dos jogos e não a ordem da história contada por esses jogos), acredita-se que o time de tradução não sabia o que era uma ocarina à época.
A ocarina igualmente se fez presente em spin-offs da série, como BS The Legend of Zelda (a ocarina serve para teleportar entre as dungeons), Tingle’s Love Balloon Trip (o personagem Segare usa a ocarina para chamar seu cavalo) e Tingle’s Rosy Rupeeland (Tingle tem uma ocarina de osso, que serve para chamar um navio pirata e, após um upgrade, permite encontrar baús de tesouro pirata)**.
Um instrumento não apenas musical
Na franquia Zelda, a ocarina tem mais do que função musical. Sempre é envolta de magia e utilidade incomum. A mágica principal do instrumento é o teletransporte, mas também serve para abrir portas, domar animais, mudar as condições climáticas e os períodos do dia, bem como viajar no tempo.
Em Ocarina o Time, o instrumento é o centro de toda a trama e o item mais utilizado durante o game. Nesse capítulo da série, a ocarina passou a ser efetivamente executada pelo jogador. A melodia não se apresenta completa pelo simples apertar de um botão. Faz-se necessário tocar as notas na ordem correta para que as melodias sejam executadas apropriadamente (o ritmo e a velocidade não são importantes).
Quando ativa a ocarina, os botões do controle (no N64: botões A, L, R e Cs. No 3DS os furos são representados pelos botões L, R, A, X e Y, ou pelo toque na tela) se transformam nos furos do instrumento, permitindo a execução das melodias.
A ideia de uma ocarina efetivamente funcional é tão presente, que, embora não fosse necessário para a resolução dos puzzles do jogo, a ocarina pode executar mais notas do que as fixas dos botões ou exigidas para o andamento do game. Com a ajuda do direcional analógico, é permitido tocar a nota em sustenido ou em bemol***, aumentando a variedade de sons possíveis.
Isso permitiu ao jogador brincar com o instrumento, executando músicas de sua preferência, em sua ocarina virtual, já que os botões representam notas reais.
Tema de “os Simpsons”
Sonic: The Hedgehog – Tema de Green Hill Zone
Tema de “De Volta para o Futuro”
Tema de “The Legend of Zelda”
O espólio de Ocarina of Time
Depois de The Legend of Zelda, a ocarina ganhou inúmeros fãs ao redor do globo e músicas executadas em ocarinas reais ou virtuais ganharam muito adeptos, marcando presença até em outras mídias:
App de ocarina, feito pela Smule, para iPhone
Enfim, a ocarina é um instrumento muito bonito, tanto visual quanto sonoramente, pena que sua amplitude sonora seja tão limitada. De toda sorte, por ser um instrumento de fácil execução e de preço bastante acessível (custa em torno de R$ 15,00 uma ocarina de plástico com 8 furos. Claro que existem ocarinas de até R$ 10.000,00, conforme a qualidade do material, o número de furos e se tem algum apelo a um público específico), é uma excelente pedida para os apreciadores da música, mesmo que não tenham experiência com outros instrumentos.
Para quem curte só ouvir o som da ocarina, nada melhor do que o vídeo abaixo de Hyrule Symphony, executando um medley das músicas especiais de Ocarina of Time:
Definições e Curiosidades
* Oitavar: Em música, uma oitava é o intervalo entre uma nota musical e outra com a metade ou o dobro de sua frequência. O nome de oitava tem a ver com a sequência das oito notas da escala maior: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó, a que se chama igualmente “uma oitava”. Assim, diz-se que o segundo dó, o último grau da escala, está “uma oitava acima” do primeiro. Por força disso, oitavar, nada mais é do que tocar a mesma nota uma oitava acima (ou abaixo) da nota original.
** BS Zelda trata-se do Zelda original para NES, refeito com gráficos de SNES, lançado para o BS-X Broadcasting System, que era um acessório do SNES no Japão. Nesse jogo, para viajar entre os templos, era possível o fazer através de uma ocarina encontrada na terceira dungeon.
***Em música, o sustenido é um acidente que, tendo seu sinal de notação (#) colocado à esquerda da nota, indica que a altura desta nota deve ser elevada em um semitom. Bemol (b), por seu turno, indica que a altura da nota deve ser reduzida em um semitom.
Referências
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocarina
http://en.wikipedia.org/wiki/Ocarina
http://www.zeldawiki.org/Ocarina
http://www.zeldawiki.org/Color_Changing … lloon_Trip
http://www.zeldawiki.org/Tingle%27s_Rosy_Rupeeland
http://www.zeldawiki.org/BS_The_Legend_of_Zelda