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Majora’s Mask é um dos jogos mais sombrios e misteriosos da série. Sua trama repleta de personagens distorcidos e histórias que não se encaixam em nenhum outro jogo deixam um clima de incerteza no ar, nos fazendo perguntar com frequência o que é aquele lugar e onde exatamente ele faz parte da cronologia da história (se é que faz). Todos sabemos que Majora’s Mask está diretamente ligado a Ocarina of Time e é o primeiro na linha da cronologia do Herói Criança, mas o jogo não se passa exatamente no mesmo mundo em que Ocarina estava inserido e representa uma lacuna na história, não fornecendo exatamente uma ligação direta entre Ocarina of Time e Twilight Princess (em Hyrule História, o mundo de Termina é descrito como um universo paralelo, mas isso só aumenta as especulações, porque abre um leque de possibilidades para explicar que tipo de “paralelo” ele é).

Neste mundo paralelo, os personagens são peculiares, e por peculiares eu quero dizer esquisitos, são centenas de pessoas que, apesar de estarem vivendo suas vidas normalmente, apresentam um desespero interno, provavelmente causado pela iminência da destruição de seu mundo, e isso fez com que a grande maioria deles aja de forma errática, deixando o mundo de Termina, e principalmente a cidade de Clock Town, repleta de criaturas bipolares, que ao mesmo tempo que estão sorrindo para você, demonstram profundo desespero em seus olhos.

Dentre os personagens bizarros apresentados, existe uma recorrência peculiar: crianças.
Todos os jogos da série têm sua cota de crianças estranhas e macabras, Malo e Agitha mandam lembranças, mas em Majora’s Mask isso é elevado a um nível que não tem como passar despercebido.

A cidade central do jogo é “comandada” por cinco crianças, os Bombers. Por mais que exista um prefeito em Clock Town, este já não cumpre mais seu papel de direito, sendo apenas mais uma das almas perturbadas do local, sem destino e/ou esperanças. E agora quem dita as leis são os pequenos, que estabelecem regras e até limitam seu acesso em algumas áreas. Apesar de parecerem crianças baderneiras, os Bombers funcionam como uma espécie de guardiões dos moradores locais, pois é deles que você ganha o Bomber’s Notebook, em que estão armazenados todos os problemas dos habitantes de Termina, e se eles sabem os problemas de todos que ali vivem, é porque alguma influência eles exercem em toda aquela população.

Bombers

Bombers

Na lua, outras cinco crianças guardam o combate final. Quatro delas estão com as máscaras dos chefes enfrentados durante o jogo, e te oferecem desafios em trocas das máscaras que você recolheu. Caso tenha conseguido todas, poderá enfrentar os 4 desafios. A última está usando a Majora’s Mask, e te levará ao desafio final, que é enfrentar a própria Máscara de Majora. Isso nos leva a pensar:

Cinco crianças. Teriam alguma ligação com os 5 Bombers? Os Bombers são guardiões da cidade, as outras crianças são guardiões do mundo que existe dentro da lua. Em ambos os grupos existe um líder, que dita as ordens enquanto os outros quatro ficam andando aleatoriamente.

Crianças da Lua

Crianças da Lua

Sua primeira transformação, a Deku Mask, contêm o espírito de uma jovem árvore que provavelmente perdeu sua vida nas mãos do agora transformado Skull Kid. Mais uma criança, desta vez simbolizando a morte, um dos assuntos mais recorrentes do jogo e que também está ligado à teoria que será abordada logo abaixo.

E por falar em Skull Kid, temos aqui a criança principal do jogo, pois Skull Kids nada mais são do que crianças que se perderam em Lost Woods. Este em especial está dominado pelo poder da Majora’s Mask e agindo sem controle, podendo causar a destruição daquele mundo, se transformando no principal antagonista da história. Então o jogo gira em torno da batalha entre duas crianças pela salvação de um mundo completamente estranho.

Não existe nada que explicite que Tatl e Tael são fadas crianças, mas como isso é recorrente na história e eles se tratam por “bro” e “sis”, apelidos carinhosos e de certa forma infantis, existe uma grande possibilidade de eles fazerem parte da imensa quantidade de crianças que permeia a trama do jogo. Até porque quando a história das duas fadas é contada, eles estão constantemente brincando com Skull Kid, deixando a impressão de que são três crianças se divertindo.

Link, Tatl, Tael e Skull Kid

Link, Tatl, Tael e Skull Kid

Pamela é uma menina que vive sozinha em sua casa no sinistro e abandonado Ikana Valley. Posteriormente descobrimos que na verdade ela não vive exatamente sozinha, seu pai foi transformado em um Gibdo e vive trancado dentro de um armário, enquanto Pamela tem que lidar com os sofrimentos do local, contando apenas com a ajuda do herói.

Romani é outra das crianças solitárias do jogo, que na verdade também não está exatamente sozinha. Ela vive em Romani Ranch com sua irmã Cremia, que apesar de se preocupar com ela, não acredita em suas teorias de que alienígenas estão roubando suas vacas, e mais uma vez, com a ajuda do herói, ela precisará realizar sua tarefa sem o apoio do único adulto que reside ao seu lado.

Kafei foi amaldiçoado e adivinhem… transformado em uma criança. Agora ele não pode realizar seu casamento com a doce Anju, a não ser que consiga reverter sua maldição e retornar à sua antiga forma.

Em Goron Village, o líder Darmani está morto e agora todos estão à mercê de um bebê chorão que está tirando o sossego de todos no palácio. Ele é mandão, manhoso e você deverá satisfazer suas vontades por duas vezes. Primeiro, conseguindo a música Goron Lullaby que irá acalmá-lo, e depois fazendo com que você abra e vença as Goron Races, pois ele estará lá dando aquela forcinha, exigindo que você vença a corrida.

Todas essa crianças têm representações claras de família (Romani), liderança (Goron Elder’s Son), sofrimento (Pamela), disfarce (mascara Deku) e maldade (Skull Kid). E todas essas características fizeram parte da jornada de nosso herói pelo mundo de Hyrule, enquanto tentava impedir que Ganondorf dominasse o mundo em Ocarina of Time; Agora elas voltam representadas em crianças que fazem parte desse novo mundo em que Link está inserido.

Mas o que essas crianças, desempenhando papéis tão importantes na história, representam na vida do herói?

Kafei, Pamela, Romani e Goron Elder's Son

Kafei, Pamela, Romani e Goron Elder’s Son

Essas crianças podem estar diretamente ligadas a uma das teorias mais pesadas e sombrias do jogo, de que na verdade Link está morto e Termina é o seu purgatório pessoal, uma espécie de provação que o herói precisa enfrentar para poder alcançar seu lugar junto às Deusas.

Todas essas crianças poderiam ser uma personalização do inconsciente e da vida de nosso herói trazidas à tona para personificar um mundo que serviria como passagem para que ele pudesse alcançar uma existência superior.

O último desafio, dentro da lua, te é dado por uma criança que até então nem tinha aparecido na história, em um mundo estranho dentro de uma lua. O lugar parece um grande sonho, ou – para chegar ao ponto que quero abordar – uma espécie de paraíso. É um infinito campo verde, com céu azul e uma imensa árvore no centro, que pode fácil ser uma simbolização de Yggdrasil, a grande árvore mítica que sustenta os 9 universos (já que estávamos falando de universos paralelos, Termina pode – ou não – estar no centro de tudo). Ainda na lenda da árvore, diz-se que Yggdrasil é capaz de trazer alguém de volta à vida e em seu ponto mais alto está localizado o reino de Asgard, que é o reino sagrado, frequentemente associado ao céu ou paraíso, e é como aquele lugar dentro da lua realmente parece, um reino sagrado, um paraíso. Se associarmos a grande árvore a todas essas representações, podemos teorizar que o herói, em seu purgatório particular, teria que passar pelo desafio final e então seria decidido se ele se juntaria ao mundo dos mortos ou se ele prevaleceria e poderia voltar à Hyrule e continuar sua jornada.

Yggdrasil

Yggdrasil, a árvore que sustenta todos os universos

De qualquer forma, todos nós sabemos que o herói pereceu, pois o Hero’s Shade de Twilight Princess é ninguém menos do que o próprio Link de Ocarina of Time e Majora’s Mask, o Herói do Tempo. O fato dele estar crescido e com uma armadura e apresentar palavras de pesar e arrependimento quando se materializa para ajudar o herói em Twilight não quer dizer muita coisa, pois sendo um espírito, ele poderia se materializar da melhor forma para auxiliar seu discípulo (e uma criança não seria a melhor escolha), e suas palavras duras podem representar todo o sofrimento que ele passou nestes 3 dias eternos de sua existência pós terrena. Então é fácil criar uma suposição de que Link realmente pereceu em sua busca por Navi e todos os tormentos de Termina representam uma provação que ele precisa passar, como um último desafio para se tornar aquele que seria lembrado por gerações como o maior herói de todos os tempos, ou simplesmente desaparecer na lembrança de um povo que posteriormente passaria a lembrar dele apenas como parte de uma história, um conto de fadas. Caso ele tenha conseguido sair de seu purgatório com vida e continuado sua jornada como o herói que Hyrule tanto precisa, isso também explicaria seu destino como Hero’s Shade, pois todas as palavras de arrependimento que demonstra em seus diálogos seriam de algo que ele realmente viveu. As duas opções podem ser levadas em conta como teorias para explicar a ascenção e a queda do maior herói que já existiu em Hyrule, pois a história de como esse herói foi derrotado ainda não foi contada.

Isso tudo não passa de especulações, mas o que não é especulado em um jogo Zelda? As tramas “mal” amarradas e cheias de buracos são propositais, para que novos jogos possam surgir no meio do caminho e para que os fãs possam criar seus próprios mundos dentro daquele universo, através de teorias e suposições, aumentando assim a integração com o misterioso mundo da série. Afinal, se os jogos tivessem uma trama bem presa, todos com começo, meio e fim bem explicados e não houvesse espaço para suposições, seriam muito mais esquecíveis e a série não teria se transformado na lenda que é hoje.

Edição de imagens: Fabio Candido

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