Se fosse preciso escolher um ano decisivo para o sucesso da Nintendo Company, esse ano provavelmente seria o de 1986.
Em 1986 foi lançado no japão o jogo “The Hyrule Fantasy: Zeruda no Densetsu” para o Famicom (Nintendo Family Computer), além de alguns outros como “Akumajō Dracula”, “Metroid” e o relançamento de “Super Mario Bros.” para Famicom Disk System. A partir desses títulos a empresa se consolidou no mercado de jogos, principalmente por obter tanto sucesso a partir de seu primeiro console próprio. Desde então, a sagrada receita vem sendo seguida com exímio esmero, tanto para o sucessor do Famicom (com o “The Legend of Zelda: A link to the past”, “Super Mario World”, “Super Metroid” e “Super Castlevania IV” para SNES) quanto para os consoles mais modernos (com o “The Legend of Zelda: Skyward Sword”, “Metroid Prime 3: Corruption”, “Super Mario Galaxy 2” e “Castlevania Judgement” para Wii).
Apesar de grandes nomes como suporte parecerem criar um ambiente muito favorável para a criação de jogos, ter uma fórmula favorável pode ser tão desafiador quanto criar séries novas. Isso porque os títulos sempre carregam o peso de seus antecessores. Se 1986 foi o ano que anunciou o sucesso da empresa, com certeza, uma década depois, o ano de 1996 foi o ano de maior medo em relação ao futuro da Nintendo. Nesse ano foi lançado o revolucionário Nintendo 64, terceiro console da companhia que impulsionava os jogos para uma nova fase na história dos video-games: os gráficos e jogabilidade 3D.
Até então, os principais lançamentos da empresa fizeram muito sucesso no estilo side-scrolling e flip-screen. O desafio estava em como adaptar esses jogos para as novas tecnologias, sem que se perdesse a essência do que já estava sendo criado. Há quem diga que o sucesso do primeiro jogo do console, o “Super Mario 64”, já estava garantido. O modelo foi amplamente utilizado na criação de vários outros jogos como o “Banjo-Kazooie” e “Donkey Kong 64”. No entanto, todos os outros títulos de sucesso ficaram prontos somente alguns anos após 1996, o que mostra certa cautela da empresa em relação à criação de jogos para o novo console. Até mesmo o sucesso antigo da série “Metroid” foi deixado de fora devido à incerteza de como transportar a série sem perder o que ela havia proporcionado nos consoles anteriores.
Felizmente, a empresa conseguiu superar o ano de 1996 e criou jogos que se tornaram referência para todo e qualquer desenvolvedor. Além do “Super Mario 64”, podemos destacar o “The Legend of Zelda: Ocarina of Time”, que apresentou uma mecânica muito diferente dos outros jogos lançados. Os botões reservados à movimentação da câmera foram utilizados para expandir o acesso ao inventário e o comum comando de salto foi retirado para a implementação de um salto automático, tornando o jogo muito mais dinâmico. O sucesso foi tanto que rendeu para a série Zelda um outro jogo para o mesmo console, o “The Legend of Zelda: Majora’s Mask” explorando o grande potêncial do expansion pack, que adicionou 4 megabytes de memória RAM para o Nintendo 64.
Apesar do sucesso, o grande desafio em inovar séries já consagradas nunca foi totalmente superado pela Nintendo. O lançamento do “The Legend of Zelda: The Wind Waker” em 2003 causou muita polêmica devido ao uso de traços simples em um console que prometia um visual realístico para os jogos. A série Mario também teve um desafio de aceitação com o lançamento de “Super Mario Sunshine”, um jogo que incluiu uma jogabilidade muito diferente em cima do modelo adotado no “Super Mario 64”. O último desafio se mostrou no lançamento de “The Legend of Zelda: Skyward Sword” lançado para Wii em 2011, sendo o primeiro jogo da série a utilizar o aparelho MotionPlus que amplifica o sensor de movimentos do console.
Vemos nisso algumas características interessantes sobre a série Zelda. Apesar de a estrutura em geral não ser mudada radicalmente, salvo o incerto ano de 1996, as poucas mudanças, mesmo que pequenas, causam grande euforia entre os fãs. Mais do que o estranhamento ao visual do “The Legend of Zelda: The Wind Waker”, vemos opiniões divididas sobre a implementação da stamina no “The Legend of Zelda: Skyward Sword”. Essa gama de fãs exigentes pode ser o motivo da série ter uma evolução tão discreta em relação à sua estrutura. A antiga fórmula do herói que salva a princesa colecionando artefatos mágicos já é questionada aos poucos por alguns jogadores e não parece ser algo que a Nintendo largará tão cedo.
Os dois novos consoles da Nintendo Company, Nintendo 3DS e Nintendo Wii U, ainda não possuem previsões de jogos originais da série. Não há dúvidas de que serão criados, no entanto, devemos pensar como realmente queremos que a série prossiga. A implementação dos novos recursos pode mudar radicalmente o jeito que encaramos os jogos ou podem criar algo muito parecido com o que já foi criado, juntando poucas modificações. Com certeza a série que começou em 1986 é um sucesso e não há grandes motivos para uma mudança radical. Porém, foi preciso um nebuloso ano de 1996 para que ela passasse a ser uma referência entre os jogos. Talvez o ano de 2012 seja o momento para se jogar novamente em meio a incertezas para descobrir o que mais há além das nuvens que pairam pelo céu.