A divulgação recente da cronologia oficial da série dos jogos Zelda criou certa polêmica entre os gamers fãs. Ainda que generalizar quase nunca seja um bom jeito de se analisar polêmicas, podemos dizer que, em suma, existem aqueles que estavam ansiosos por esse acontecimento e os que não enxergam a necessidade de uma cronologia oficial. A confusão da linha divulgada é indiscutível. No meio de algumas obviedades vemos elementos surpreendentes como uma terceira linha temporal em que o herói do jogo “The Legend of Zelda: Ocarina of Time” é derrotado. A cronologia de lançamento dos jogos fica quase irreconhecível com idas e vindas inesperadas, tendo o último lançamento “The Legend of Zelda: Skyward Sword” no começo da linha temporal e os primeiros lançamentos “The Legend of Zelda” e “The Legend of Zelda II: Adventure of Link” colocados no final de um dos desmembramentos da história.
Claramente vemos certa artificialidade nesse empilhamento das séries, não sejamos levianos em relação a isso. A intenção da Nintendo ao criar sucessivos jogos em que o herói resgata a princesa dificilmente foi a de interligá-los todos em uma só grande história. No entanto, o enorme sucesso das séries fez com que Zelda, Mario, Metroid e alguns outros títulos fossem escolhidos para serem o chamariz para os novos consoles como o “The Legend of Zelda: A Link to the Past” lançado em 1991, o mesmo ano de lançamento do Super Nintendo. A temática medieval da série, assim como seu nome, pedia um tom mítico para sua história que pudesse ser flexível o suficiente para gerar jogos por tempo indefinido. Isso foi brilhantemente conseguido ao criarem uma lenda com momentos periódicos de aparição do herói, da princesa e do vilão em tempos de necessidade.
Nessa lógica foram criados com sucesso cerca de 17 jogos da série, além de eventuais aparições das personagens em outros títulos. O resultado desse investimento na franquia é visto nas vendas do remake “The Legend of Zelda: Ocarina of time” para o novo console 3DS, um jogo com conceitos de quatorze anos atrás vendido hoje como novo, concorrendo com as últimas tecnologias. Por esse lado, vemos que, racionalmente, não há mesmo a necessidade do lançamento de uma cronologia oficial, além de servir como mais um apetrecho lucrativo e comemorativo do aniversário de 25 anos da série (Lembrando que a cronologia é vendida em um livro de artworks impresso em alta definição). O lançamento de jogos Zelda para Wii U, 3DS e seus sucessores terá a mesma estratégia de sempre: Uma história que poderá ser muito bem encaixada em qualquer lugar não muito especial da linha do tempo, entre uma e outra reencarnação de Link.
Há, no entanto, algo muito curioso na euforia das comemorações do aniversário da série, bem como no sucesso de vendas do remake: ambos os acontecimentos são motivados principalmente pelos gamers antigos. Vemos nisso uma estratégia recente da Nintendo, desde o lançamento dos consoles DS, que é a de voltar parte de sua atenção para o público adulto. Essas pessoas fazem parte do que hoje se chama de “Geração Y”, nascida no início dos anos 90, que agora concilia as responsabilidades da vida adulta com elementos da infância, como quadrinhos, bonecos e jogos eletrônicos. Os constantes itens de colecionador, edições limitadas e relançamentos dos últimos anos buscam manter essa parcela de compradores interessada e consumindo, trazendo as tais “novidades antigas” para o mercado.
A cronologia oficial da série, desse modo, se insere nessa lógica de agradar as antigas gerações. Os gamers que tiveram seu primeiro contato com títulos antigos como “The Legend of Zelda” ou “The Legend of Zelda: Ocarina of Time” e viram a evolução da série junto com sua própria evolução intelectual sentem satisfação ao verem questões da época da infância resolvidas. Certamente, a divulgação dessa linha do tempo não é necessária para o crescimento e sucesso dos jogos, é, no entanto, suficiente e justa para quem apenas quer se lembrar de quando eram heróis do tempo e podiam voltar a ser crianças em um empunhar de uma espada.