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Cavalgar Yoshi pelo Reino dos Cogumelos sempre deu asas à imaginação dos jogadores e criou a vontade interna de se ter um dinossauro próprio para recriar na vida real as aventuras de Mario. Todavia, todos têm ciência de que dinossauros não mais existem e, ainda que assim não o fosse, em nada se pareceriam com Yoshi.

As aventuras de Link, por outro lado, desde Ocarina of Time, oferecem um sonho mais palpável de montaria: Epona. A égua de Link é facilmente recriável no mundo real, pois cavalos estão aos montes à nossa disposição. Todavia, a montaria do momento, o desejo de todo jogador que assume o controle do rapaz de túnica verde, é, sem sombra de dúvidas, o Crimson Loftwing que permite Link viajar pelos arredores de Skyloft.

A ideia de ver Link vagar pelos ares não é nova. Há muito os jogadores vêm fazendo manobras no ar com Cuccos, Oocoos e capas (a exemplo da Roc’s Cape, de Minish Cap e Four Swords), além de ver Link cruzar os céus pendurado em uma coruja ( “Kaepora Gaebora” – descendo a Death Mountain, rumo a Kakariko Village – em Ocarina of Time), ou no pássaro Zeffa (pássaro azul, originário da terra dos ventos, que leva Link de um Wind Crest a outro, em Minish Cap), no “Flute’s Boy Bird” (em A Link to the Past) ou, ainda, pela propulsão de um canhão (“Oasis Flight” – Lake Hylia – Twilight Princess). Ocorre que, a experiência é sempre curta e não há efetivo controle do jogador.


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Voar com liberdade e controle, como se estivesse conduzindo Epona ou outro meio de transporte (barco ou trem), era algo impossível, embora desejado, pelos aventureiros de Hyrule. É bem possível que a concessão de um meio de transporte aéreo para Link (totalmente controlável) já tenha circundado as ideias da equipe de desenvolvimento da série, em várias oportunidades. Entretanto, seja por dificuldades de controle, inexistência de acréscimo da experiência à narrativa ou receio de distanciamento da tradição medieval retratada na série, até Skyward Sword não se tinha “dado asas” à ideia.

Observando, porém, que todo jogo da franquia Zelda parte da forma como os controles contribuirão com a experiência de jogo, afigura-se de maior plausibilidade a teoria de que até SS não se havia experimentado controle que conseguisse oferecer uma experiência realmente interessante de voo livre.

Especulações à parte, fator determinante para a implementação da ideia de um Link voador em SS foi a sugestão de um garoto de 8 anos. Veja-se:

“Eu tenho um filho de 8 anos e, recentemente, ele começou a jogar The Phatom Hourglass para DS, porque, quando o software foi lançado ele era muito novo. Quando ele começou a jogar com o navio, eu lhe disse: ‘No próximo Zelda, você poderá conduzir um trem’. Ele respondeu: ‘OK, pai, primeiro um barco, e agora um trem? Com certeza, na próxima vez, Link irá voar pelo céu”. Eiji Aonuma, em entrevista para o jornal britânico “The Guardian”, em 25/11/2009 – tradução livre

As mais recentes investidas de transporte na série focaram em veículos (como o navio e o trem). Seguindo essa tendência, temia-se que o padrão medieval seiscentista começasse a ser de vez esquecido pela série, na medida em que rumava à era da revolução industrial de Hyrule, apresentando veículos movidos a vapor.

Mas, não se olvidando que SS é o prequel mais antigo na linha do tempo, não faria muito sentido colocar um avião que, misteriosamente, se tornaria um artigo de produção descontinuada e cujo projeto se perderia no tempo (para justificar sua omissão nas histórias posteriores).

Desta forma, para se avançar no quesito transporte, mas não provocar avanços tecnológicos incompatíveis com a marcha da série (se bem que em outras áreas há certas discrepâncias tecnológicas com relação aos demais capítulos da série), a saída viável foi a introdução de um enorme pássaro, capaz de carregar um homem adulto em suas costas.

A opção pela disposição de uma ave como meio de transporte se fez necessária, diante a história narrada e, principalmente, pelo fato de que as “ilhas” flutuam no ar e estão dispostas em consideráveis distâncias entre si. Se bem que, a ordem dos fatores pode ter sido invertida e a criação de um mundo acima das nuvens tenha partido da vontade se utilizar a ave como transporte.

Além de tudo isso, considerando a posição pioneira de SS na linha do tempo, era o momento ideal para se explicar o motivo de haver um pássaro estampado no Brasão da Família Real de Hyrule e não um avião.

Como toda lenda, nada existe por mero acaso ou tem função meramente decorativa. Tendo isso em vista, em SS os Loftwings são rodeados pela tradição do povo de Skyloft. Tanto isso é verdade que tudo em Skyloft remete aos Loftwings: escudos ostentam pegadas da ave; várias peças decorativas foram esculpidas com a silhueta do pássaro; Skyloft mantém uma academia de cadetes da força aérea, destinada a formar cavaleiros alados e sua graduação se dá através da Wing Ceremony, em que, utilizando as montarias aladas, buscam um “troféu” noformato do pássaro; e, mais interessante, as orações dirigidas à divindade Hylia são feitas ao pé de estátuas com o busto de um Loftwing.

Todos os habitantes de Skyloft têm seu próprio animal e, reza a lenda, homem e Loftwing criam uma ligação especial entre si, cuja duração perdura por toda a vida de ambos. A conexão é tamanha que até o “penteado” do animal e os acessórios que lhes são aplicados se dão de forma a se assemelharem ainda mais a seus donos.


Loftwings são encontrados nas mais variadas cores, mas a mais rara, e mais invejada pelos alunos da academia, é a vermelha (Crimson – hibridação que se achava estar extinta) que, por obra do destino, veio a pertencer a Link. Claro que, conforme já sinalizado, havia uma razão especial. Nas palavras de Eiji Aonuma, em entrevista para a Revista Famitsu, eis alguns detalhes intrigantes:

“É costume cada pessoa ter um pássaro [Skyloft]. Link tem um vermelho especial, que é uma variação bastante rara do pássaro – o que faz com que os outros se impliquem com ele, questionando ‘Por que você fica com esse pássaro chique e nós não?!’, mas depois você descobre que o pássaro vermelho era necessário para acessar a Mainland. Então, a mão do destino se envolveu aqui, como sempre faz em Zelda, cedo ou tarde”.

Toda essa ligação Homem/Skyloft e mão do destino, além de deixar a trama e a experiência do jogo ainda mais interessante, aumentam exponencialmente o sonho dos jogadores de ter um Loftwing para si.

O LOFTWING DA VIDA REAL

Mas aí que surge um problema: que ave é essa e onde se pode ser encontrada? Aliás, pode ser encontrada? Embora muitos não saibam, os Loftwings apresentados em Skyward Sword existem de verdade. No entanto, atendem por outro nome: Shoebill (Balaeniceps rex).

O Shoebill (Bico de Sapato/Tamanco) tem esse nome, segundo a literatura ornitóloga, porque seu bico lembra os sapatos de madeira tradicionais da Holanda. Em alguns lugares a ave é conhecida como Whalehead (cabeça de baleia), por motivos desconhecidos (já que não é muito simples notar semelhança com as baleias).

A ave real vive cerca de 25 anos e é bastante grande: mede 1,50m de altura, 1,40m de comprimento e 2,60m de largura (com as asas abertas), mas pesa apenas 7 kg – por isso, mesmo que se quisesse, não seria possível montá-la, já que não suportaria nem o peso de uma criança. Seu bico mede cerca de 30cm de comprimento e 20cm de largura (sendo reconhecido pela comunidade científica como o maior bico que se tem notícia) e tem cor levemente amarelada.

Suas penas variam de tons de cinza a azul, existindo algumas variantes arroxeadas. Infelizmente – como não existe a hibridação Crimson – não há, no mundo real, a versão com penas vermelhas.

Balaeniceps rex é um pássaro antigo, existindo registros de sua existência no Egito Antigo, embora sua redescoberta e batismo científico só tenha ocorrido em 1851, pela Sociedade Britânica de Ornitologia. É um pássaro dócil, encontrado no continente africano, em regiões pantanosas. Alimenta-se, basicamente, de peixes, sapos, filhotes de crocodilos e pequenos mamíferos. Guarda certo parentesco com o pelicano, exibindo uma pequena bolsa embaixo de seu bico.

O “Pelicano-bico-de-tamanco” é muito apreciado e protegido por ornitólogos, mas já foi material de caça esportiva, devido a sua agilidade no ar, e teve grande parte de sua população extirpada da Terra devido à destruição de seu habitat natural, por escavações em busca de diamantes. Por força disso, apenas cerca de 8.000 espécimes podem ser encontrados no Sudão, Uganda, Zâmbia e leste do Zaire, sendo o Loftwing da vida real considerado uma espécie em risco de extinção.

A inspiração dos Loftwings nos Shoebills, em se tratando do time de desenvolvimento da franquia Zelda, provavelmente não foi aleatória ou movida apenas por questões estéticas. Em exercício de especulação, pode-se notar que ambos têm muito mais em comum do que simplesmente seus traços físicos.

Tal qual o animal real, o Loftwing tem registro de sua existência no capítulo mais antigo da série Zelda e, ainda, aponta-se que sua origem remete aos tempos passados, da Antiguidade do mundo de Hyrule.

Paralelo a isso, denota-se que se trata de espécie com hibridações já extintas e, a menos que estejam a salvo e inacessíveis ao povo da superfície, desde o fim dos eventos de SS, pode ter sido completamente suprimida de existência, já que não vista ou mencionada em qualquer outro capítulo da série.

Prefere-se acreditar que os Loftwings estejam sãos e salvos acima das nuvens e, eventualmente, sejam redescobertos por uma nova geração de Link e Zelda. Contudo, não há garantias ou sinais claros disso.

Da mesma forma, espera-se que o Shoebill seja firmemente protegido e lhe sejam conferidas condições de restabelecer população suficientemente vasta para afastar o iminente risco de extinção. Assim, embora o conhecimento de que os Loftwings existem de verdade aguce ainda mais a vontade de ter um no quintal, é importante a compreensão de que quanto mais distante o homem ficar desse animal, mais fácil será evitar que sua existência se restrinja ao universo de Hyrule.

Referências

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