Numa época em que o mercado mundial de games clama por originalidade, muitas empresas olham para o passado com olhar de resgate a velhas mecânicas.
No processo de evolução natural dos jogos eletrônicos, coisas que outrora eram comuns a qualquer jogador, foram sendo esquecidas com o tempo, até serem completa ou parcialmente perdidas.
Assim que jogos de séries importantes ganharam a chamada terceira dimensão, foi iniciada uma onda onde todo novo jogo deveria ser em 3D. Não fosse a popularidade dos portáteis da Nintendo na época, que utilizaram o 2D nos seus títulos – até pela limitação técnica destes – teríamos a abolição ao gênero, já que eram comercialmente mais chamativos jogos em terceira dimensão.
Dentro dessa nova “onda”, grandes franquias se reinventaram, ganharam novas mecânicas, novos conceitos. Algumas conseguiram se adaptar bem a esse novo modelo, criando grandes clássicos no processo. Outras não tiveram a mesma sorte e ficaram conhecidas por decepcionar seu fãs criando títulos até hoje detestados.
Grandes exemplos disso são os jogos do Sonic que funcionavam perfeitamente em duas dimensões mas que tiveram suas adaptações para o universo 3D grandemente criticadas pela mídia especializada e pelo público em geral.
Jogos de luta também não foram muito bem aceitos: títulos como Street Fighter, The King of Fighters e Mortal Kombat ganharam jogos em três dimensões mas regressaram ao estilo original depois da má aceitação do público.
É essa nova tendência de jogos em duas dimensões que tem chamado a atenção. Grandes jogos que obtiveram aprovação dos fãs no universo 3D voltaram às origens em jogos mais recentes.
Mesmo depois do sucesso de Super Mario 64 e Super Mario Galaxy, a Nintendo ainda investiu na série New Super Mario Bros. onde o gameplay original foi acrescentado com uma ou outra inovação, mas mantendo a visão em side-scrolling sua característica mais acentuada.
Talvez o que de fato influencie essa tendência de trazer jogos antigos à origem seja, além dos motivos técnicos, como custo e tempo de produção, de trazer velhos jogadores novamente ao universo dos jogos e porque há uma relação comercial diferenciada entre os títulos clássicos 2D e 3D.
A nítida diferença nas vendas desses títulos coloca em cheque a questão do uso obrigatório da terceira dimensão. Rayman, Sonic, Mario, Kirby entre outros títulos-chave, venderam muito mais e foram melhor aceitos nos jogos em duas dimensões. Isso porque jogos assim mais “simples” estendem seu público alvo, ao mesmo tempo que mantêm jogadores ativos interessados, pelo menos na maioria dos casos.
Na última quarta-feira, dia 17 de abril de 2013, durante a exibição on-line de um dos seus já conhecidos “Nintedo Direct”, a Nintendo, através de Reggie Fils Aime faz, até então, um anúncio inesperado: “The Legend of Zelda: A Link to the Past” ganhará uma continuação. O jogo, ainda sem subtítulo definido, impressionou por utilizar a visão de seu antecessor original. Depois do remake de The Legend of Zelda: Ocarina of Time para o Nintendo 3DS, muito se especulava sobre como os jogos portáteis da série deveriam ser tratados no quesito gráfico, já que o título antes citado demonstrava a capacidade do aparelho em “rodar” um Zelda completamente em 3D. Então, qual o motivo para criar um novo título em perspectiva 2D para a série? Muitos apostam em “preguiça” por partes dos desenvolvedores, outros podem dizer até que a Nintendo se aproveita de fórmulas antigas para vender seus novos títulos e que isso seria um retrocesso.
Independente da opinião pessoal de cada um, é coerente afirmar que The Legend of Zelda nunca esteve de fato presa às amarras “gráficas” que tanto massacram outras franquias. História e gameplay sempre foram mais importantes que esse ou aquele polígono. Juntar a importância de um título da série, associá-la a um clássico dos video games e aplicar esse “conceito” de retorno às origens, pode significar a criação de um título financeiramente rentável e de sucesso entre antigos e novos fãs da série.
Ainda há muito pouco o que afirmar sobre o novo título, além de sua inspiração e data de lançamento, e os poucos minutos de gameplay que foram apresentados. No entanto, as redes sociais inflam com discussões sobre ele, que já ganhou admiradores e inimigos confessos. É claro que qualquer novo título virá repleto de discussões, seja ele um “Zelda” ou não. O que fica é a dúvida do quanto os gráficos em 2D influenciariam a opinião das pessoas? E porque essa fórmula pronta, com a qual nos acostumamos nos últimos anos, não pode ser questionada? Deixamos de nos divertir com os jogos que passaram a ter a questão estética padronizada mais valorizada que o próprio gameplay?
Por enquanto cabe a reflexão e/ou a discussão sobre o tema, afinal há um longo caminho até o lançamento do jogo e o que nos resta é esperar e ver se a Nintendo acertou ou não trazendo esse novo Zelda em 2D.