Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é o terceiro título crossover entre a série The Legend of Zelda e o gênero Musou/Warriors, da Tecmo Koei. Musou são jogos de ação, onde o jogador controla alguns personagens poderosos e navega um campo de batalha derrotando centenas de inimigos no seu caminho, agindo como um verdadeiro “exército de um homem só”. O primeiro crossover, chamado apenas Hyrule Warriors, focava apenas em fanservice, com um enredo totalmente original e desconexo da continuidade da série, enquanto o segundo, de subtítulo Age of Calamity, nos contava uma versão alternativa das memórias do passado vistas em Breath of the Wild, ainda com eventos não-canônicos e um desfecho diferente, mas muito mais focado em um jogo só. Age of Imprisonment, por sua vez, vai um passo além e se propõe a nos contar exatamente os eventos da Guerra do Aprisionamento vislumbrados por sua vez nas memórias coletadas ao longo de Tears of the Kingdom.

Este foco em contar uma história canônica, apesar de ser um ponto de venda, acaba sendo um grande ponto fraco do jogo. A Hyrule do passado de Tears of the Kingdom é um cenário um tanto quanto vazio, principalmente quando comparado com o reino mostrado nas memórias de Breath of the Wild, e Age of Imprisonment herda essa falta de detalhes, talvez por falta de permissão de criar áreas novas nessa era. Nunca somos apresentados a locais que poderiam ser bastante interessantes de explorar, como vilarejos e estruturas das diferentes tribos, ou até mesmo dos Hylians. Ao invés disso, ficamos centrados apenas no castelo de Hyrule da época e no Templo do Cânion de Tanagar, com os restantes das fases acontecendo em mapas localizados em áreas espalhadas por Hyrule, mas sem muitas características marcantes. Isso cria alguns momentos que quebram um pouco a máxima do “mostre, não conte”, com eventos importantes sendo relegados a informação que ocorre off-screen, e nós só ouvimos falar sobre.
O enredo também parece ter uma certa timidez. No começo da campanha, conceitos interessantes são introduzidos, mas conforme o enredo familiar vai tomando conta da narrativa, esses elementos são deixados de lado sem muita atenção dada a eles. Os Sábios, que em Tears of the Kingdom são personagens totalmente genéricos, agora recebem rostos e personalidades básicas, mas ainda lhes faltam momentos marcantes e mais interações entre eles, algo que pudesse aproximá-los do nível de carisma dos Campeões de Breath of the Wild, que foram muito bem aproveitados também em Age of Calamity. A grande exceção no quesito de narrativa se dá com a história do Korok, Calamo, e do Construto Misterioso. É possível dizer que eles dois, e não Zelda e Rauru, são os verdadeiros protagonistas, e eles proporcionam os momentos mais icônicos do jogo.

Em questão de jogabilidade, o jogo mantém a estrutura do seu predecessor, com missões principais mais longas e complexas, e as missões opcionais sendo extremamente curtas, o que dá uma variedade boa e reduz um pouco a repetição inerente de jogos Musou. Para variar um pouco mais as coisas, temos certas missões que fogem totalmente do gênero, de forma análoga às fases em que controlamos as Bestas Divinas no jogo anterior. O tamanho das missões opcionais funciona, faz com que elas sejam uma “pausa” entre as missões principais, mas talvez fosse interessante que algumas missões longas, similares a missões principais, estivessem misturadas ali, dando mais profundidade aos elementos que acabam negligenciados pelo enredo.
O rol de personagens também é bem fora do comum. Temos 9 personagens “importantes”, os Sete Sábios, Calamo e o Construto Misterioso. Eles são o foco da história, os grandes heróis da guerra. Além deles, temos mais 10 personagens “menores”, dois de cada uma das tribos dos Sábios elementais, além de dois Hylian. Esses personagens, apesar de terem caracterização interessantes, passam a sensação de “filler”, de estarem lá apenas para preencher a lista de personagens.
O que faz falta no rol de personagens, ainda mais do que no Age of Calamity antes dele, foi não termos uma inclusão dos vilões. O Ganondorf de Tears of the Kingdom é uma das iterações mais visualmente impactantes do personagem, e teria sido muito bom termos ele como personagem jogável. Isso também teria um impacto muito positivo na história, já que permitiria que nós víssemos o quão terrível é o poder do Rei Demônio. O Hyrule Warriors original ainda serve como um ótimo exemplo que seus sucessores infelizmente não seguiram nesse aspecto.
Dito isso, todos os 19 personagens são bem divertidos de usar, tendo movesets bem balanceados, com suas características distintas, mas sem forçar nenhuma gimmick que possa ser muito divisiva. E é aqui que o jogo realmente brilha, não como uma adição à história da série, mas simplesmente como um jogo de ação. Trata-se de um jogo bastante agradável de se jogar de maneira relaxada. Os Sync Attacks, uma das grandes novidades do jogo, onde dois personagens se unem para fazer um ataque especial juntos, ajuda bastante a manter o ritmo do combate dinâmico e frenético.

Junto a isso, vale notar que o desempenho do jogo não deixa a desejar. Ao contrário de seu predecessor no Switch, Age of Imprisonment roda muito bem, sem slowdowns perceptíveis, e mantendo o visual esperado dos jogos. Além disso, a trilha sonora faz jus aos jogos anteriores, com diversas músicas que amplificam ainda mais os momentos certos do jogo. Uma coisa que faz bastante falta para o público lusófono, no entanto, é a falta de uma tradução oficial para o nosso idioma, da mesma forma que os jogos mais recentes da série principal vêm recebido.

No geral, Age of Imprisonment é mais uma entrada digna à subsérie dos Zelda/Musou. Mesmo com um enredo que deixa a desejar, os momentos que tivemos com Calamo e seu companheiro robótico são uma adição digna a essa que é a versão mais ampla da série como um todo. E além disso, a jogabilidade permanece uma das melhores entre os Musou, mostrando que essa colaboração tem muito de bom para nos dar ainda.
Análise feita tendo como base a cópia do jogo cedida pela Nintendo do Brasil.


